A História do Cooperativismo
As práticas cooperativistas são observadas desde os povos primitivos nas atividades de colheita e produção de bens. Com o passar dos anos, alguns homens começaram a defender a ideia de que os resultados deveriam ser distribuídos igualmente entre todos que contribuíram com a atividade.
Em 1838, o Movimento Cartista na Inglaterra se propagou pela classe média e, com isso, surgiram as primeiras manifestações concretas do cooperativismo. O auge destas levou a fundação da primeira sociedade de consumo organizada: a Rochdale Equitable Pioners Society Limited (Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale) em 21 de dezembro de 1844, em Rochdale, Manchester. Sua criação deve-se a uma manifestação que chamou todos os operários do bairro para se unirem aos pioneiros e participarem do empreendimento cooperativista.
As dificuldades socioeconômicas encontradas na Revolução Industrial fez com que o cooperativismo buscasse uma alternativa econômica para atuar no mercado frente ao capitalismo, aos preços abusivos, as longas jornadas de trabalho, aos baixos salários e a optar por uma nova forma de trabalho, já que a mão de obra perdeu grande poder de troca, dando lugar ao desemprego. Tal crise fez surgir entre a classe operária lideranças que criaram associações de caráter assistencial, mas estes infelizmente não tiveram bons resultados. O novo modelo econômico pretendia também que o trabalhador tivesse a propriedade de seus instrumentos e a participação nos resultados no fruto de seu trabalho.
A Rochdale Equitable Pioners Society Limited foi fundada por vinte e oito tecelões com economia de uma libra de cada membro mensalmente durante um ano. Definiram que as sobras “pró-rata” das compras realizadas seriam distribuídas e que seria atribuído ao capital um juros de 4% ao ano; criaram regras, normas e princípios próprios que visavam respeitar os valores do ser humano e através de seus costumes e tradições estabeleceram metas para a organização de uma cooperativa. São também responsáveis pelos princípios morais e a conduta que são considerados até hoje a base do cooperativismo.
Ao final de 1844 contavam com 74 sócios e o capital que era de 28 libras subiu para 180. Em 1847, além dos alimentos, começaram a vender tecidos. Em 1848, já tinham 140 membros. Em 1850, compraram um moinho com o intuito de diminuir o preço da farinha. Em 1853, arrendaram um armazém e abriram três filiais na cidade. Em 1855 contavam com 400 sócios. Doze anos depois a cooperativa alcançou 3450 sócios e um capital de 152 mil libras.
Seu desenvolvimento foi mudando os padrões econômicos da época e a partir deste e de outros empreendimentos que originaram o modelo cooperativista, ele se disseminou por todo o continente e surgiram novos ramos como o industrial, o agrícola, o habitacional, entre tantos outros. Vale lembrar que as cooperativas de consumo, como no caso da de Rochdale, revendem produtos aos seus associados a preços mais baratos que os de mercado. Em 1881 já existiam 1000 cooperativas de consumo na Inglaterra com 500 mil associados.
O Congresso de Praga definiu a sociedade cooperativa nos seguintes termos (páginas 19 e 20): “Será considerada como cooperativa, seja qual for a constituição legal, toda associação de pessoa que tenha por fim a melhoria econômica e social de seus membros pela exploração de uma empresa baseada na ajuda mínima e que observa os princípios de Rochdale”. Esses princípios declarados em 1844 foram a base dos estabelecidos em 1966 pela Aliança Cooperativista Internacional.
Os sete princípios do cooperativismo formam a linha orientadora que rege e organiza as cooperativas e a base filosófica da cooperativa. São eles:
1. Adesão voluntária e livre
As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminação de sexo, social, racial, política e religiosa.
2. Gestão democrática
As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto).
3. Participação econômica dos membros
Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades:
– Desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos será, indivisível;
– Benefícios aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa; e
– Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.
4. Autonomia e independência
As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa.
5. Educação, formação e informação
As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.
6. Intercooperação
As cooperativas servem de forma mais eficaz aos seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.
7. Interesse pela comunidade
As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.
Por fim, as primeiras sociedades cooperativas modernas nasceram na Inglaterra (pioneira), França, Suíça e Alemanha. O cooperativismo foi se propagando em vários países até chegar ao Brasil.